Produção Estruturada em Série

Como trabalhar múltiplos conteúdos progressiva e evolutivamente

Por Virgílio V. Vilela

E se você pudesse trabalhar um conteúdo em pequenas partes, independentes entre si? Seria muito mais fácil, e você poderia ir publicando as partes mais maduras, de forma planejada. Veja aqui como fazer isso e o que fazer quando os conteúdos se multiplicarem.

Introdução

Escrever uma obra grande e integrada, como um romance ou monografia, pode ser difícil e demorado. Há muitas dependências entre partes do conteúdo, como uma trama, e, no caso de uma reorganização, às vezes na forma de uma simples troca de seção, muito retrabalho de redação pode ser necessário para ajustar as referências a outras partes da obra.

Apresentamos aqui uma linha de ação bem mais simples para trabalhar um conteúdo. Para começar, apresentamos um conceito muito poderoso para estruturar o pensamento.

Unidades estruturais de conteúdo

Talvez você conheça o livro As 21 Irrefutáveis Leis da Liderança. Ou Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes. Também já deve ter visto muitos artigos na internet com títulos como As N melhores... ou N Maneiras de...

Esses conteúdos têm em comum o fato de terem uma unidade estrutural, mais especificamente uma unidade estrutural de conteúdo: “lei da liderança”, “hábito”, “anedota”, “caso”, “solução”. Temos inúmeros exemplos comuns de unidades estruturais de conteúdo:

O site BuzzFeed é especializado em conteúdos com uma unidade estrutural:

Pelos exemplos, você pode notar que a organização de conteúdos, ou seja, em que produto são agrupados, pode ser um artigo com vários pequenos unidades de conteúdos (“16 vídeos fantásticos”) ou um produto maior com várias dessas unidades (“Os 7 Hábitos...”).

Produzir conteúdo que tem uma unidade estrutural é uma forma fantástica de trabalhar com mais simplicidade, tranquilidade e progressivamente. Vamos explicar essa abordagem através de um exemplo.

Exemplo

Há algum tempo me deparei com um artigo muito bom do Henrique Carvalho, 8 exemplos de introdução impossíveis de serem ignoradas (elas vão mudar para sempre sua forma de escrever), disponível em http://viverdeblog.com/exemplos-de-introducao. O autor descreve oito introduções que ele considera de qualidade:

E se eu quisesse produzir algo sobre esse mesmo tema? Não quero plagiar e quero agregar valor, então fiz uma pesquisa sobre o tema Introduções. Achei um com boa estrutura em https://www.writersincharge.com/writing-introductions (traduzido):

Como Escrever Introduções Perfeitas para seus Artigos

É fácil identificar os tipos comuns quando têm o mesmo nome, como perguntas e humor. Já para outros não é tão imediato: “fatos” é o mesmo que “dados e estatísticas”? Em todo caso, provavelmente já identifiquei mais um, talvez dois novos modelos de introdução, vou ter mais segurança depois de aprofundar. Aqui a coisa começa a ficar interessante porque já tenho como agregar valor integrando as duas fontes para oferecer mais possibilidades ao público.

Continuei explorando os resultados da pesquisa e achei um artigo conceitual, focado em critérios para uma boa introdução, o que também não aparece no artigo-base: https://explorable.com/how-to-write-an-introduction. Embora aborde introduções de artigos de pesquisa, acredito que possa extrair algo.

Também achei algo interessante em um segmento do artigo em http://writingcenter.unc.edu/handouts/introductions, por um autor chamado Bamidele: modelos de como não fazer uma introdução:

Cinco Tipos de Introdução Menos Eficazes

Neste ponto eu me convenci do potencial do tema e de que eu consigo elaborar um artigo e mesmo um ebook sobre introduções, com modelos de como fazer e como não fazer e uma parte conceitual.

De fato, eu trabalhei os resultados da pesquisa em um mapa mental (figura – sem tradução). Fui registrando a estrutura do que encontrava e os links para poder acessar as fontes.

E olha que tudo isso foi feito em menos de meia hora.

Os próximos passos seriam pesquisar um pouco mais, estudar os artigos e montar a minha estrutura para o conteúdo (uma espécie de conteúdo programático, como definido no planejamento de ensino). Quando minimamente satisfeito com a estrutura, eu então passaria às outras etapas do processo, como identificar possibilidades para o marketing e alguma iniciativa para o pós-venda, como um grupo no Facebook; a redação ficaria para quando todo o projeto estivesse estruturado e fosse considerado viável. Em termos de planejamento, é o chamado anteprojeto, no qual damos uma geral em cada parte e aspecto, aprofundando os pontos mais essenciais, para ter mais previsibilidade e sustentar melhor a decisão de tocar o projeto.

Note que o que facilitou o processo foi ter um bom ponto de partida. Este pode ser um critério para priorizar a dedicação a um tema: dedicamo-nos quando tivermos essa base.

O método

Quando há uma unidade estrutural assim explícita e clara para um conteúdo, nosso trabalho também fica estruturado. Isso é o que fazemos na nossa proposta de processo de produção de conteúdo baseado em unidades estruturais, que envolve basicamente:

Temas e matérias compõem a estrutura inerente por exemplo a um blog ou site temático. O mesmo para colunas pessoais em jornais e revistas. O que não tem essa estrutura, por exemplo, são um romance, que conta uma história, ou um livro-texto, cujos capítulos têm dependências que obrigam a uma sequência lógica. Com relação à estrutura tema-matérias, não estamos realmente inventando, mas vamos mostrar como conduzir esse processo na prática de forma segmentada, controlada e evolutiva, e ainda aproveitando o processo apresentado na parte anterior.

Nesse processo, chamado de produção estruturada em série, cada matéria está em um estágio. Por exemplo, uma matéria pode começar como uma ideia, depois passa a ser desenvolvida. Quando fica completa, entra na fila de revisão; passando na revisão, está pronta para publicação até que, uma vez publicada, entra no último estágio. O diagrama a seguir mostra essa estrutura.

Esse tipo de diagrama em alguns contextos é chamado de ciclo de vida, que em essência é composto por estados e transições entre os estados. Um estado pode ter vários nomes, como situação e status; nossa opção para o nome dos estados para matérias foi por estágio, que passa melhor as ideias de evolução e progressão. Saiba mais sobre esse diagrama neste artigo.

Os estágios podem variar de pessoa para pessoa, de projeto para projeto e mesmo ao longo do mesmo projeto. Por exemplo, no caso de um ebook de frases (a propósito, uma unidade estrutural de conteúdo bem simples) em que fui revisor crítico, usei a princípio os estágios Pronta, Em Revisão e Rejeitada (figura).

Quando o conteúdo avançou e foi categorizado, o draft tinha no primeiro nível as categorias e as situações (neste caso, melhor do que estágios) Questionadas e Fora do Contexto (figura). A situação Pronta ficou então implícita no documento.

Gerar um conjunto de estágios é de fato um processo progressivo, isto é, cíclico e evolutivo, seja pela nossa maturidade na definição, seja pelas mudanças no conteúdo.

Claro, uma matéria pode retroceder nesse ciclo; não há setas para isso nos diagramas dos exemplo acima; optamos por focar no caminho ideal e manter maior simplicidade visual. Por exemplo, você revisa uma matéria que julgava estar completa e descobre que falta algo, então a move para o estágio Em Desenvolvimento. É indesejável, mas uma matéria pronta para publicação pode retroceder para o estágio Revisar.

Uma matéria pode avançar ou retroceder no ciclo de vida.

Se você tem um revisor, pode então introduzir um estágio adicional entre a sua revisão e o estágio Publicar, como “Enviar para Revisão”. Há vários nomes possíveis para um mesmo estágio; em geral optamos por aqueles que entendemos e que são menores. Por exemplo, entre “Pronta para Publicação” e “Publicar”, escolhemos este.

Para um mesmo conteúdo estruturado em matérias, podemos ter 100 ou mais ideias em estágios variados de maturação (acredite, pela minha experiência, 100 não é muito para essa estrutura, é relativamente fácil chegar a mais que isso).

Não há limites para a quantidade de matérias para um tema.

Se o produto for um ebook, quando atingirmos, digamos, 20 ou 30 matérias que consideramos boas o suficiente para publicação, então podemos pensar em um produto. Se estivermos produzindo posts para um blog ou outro tipo de matéria, podemos publicar qualquer matéria considerada pronta.

As matérias no estágio “Pronta” têm a interessante característica de formar um estoque. Dispondo de um estoque de matérias disponíveis para publicação, é muito mais fácil planejar publicações individuais a prazos regulares, por exemplo toda semana.

Ter um estoque de matérias prontas possibilita planejar as publicações.

Se o produto for um ebook e há matérias prontas mas não o suficiente, pode ser divulgada uma miniatura, como um teaser.

Possíveis ações no draft

A dedicação ao processo envolve trabalho regular no draft, sendo as ações típicas:

Outro possível tipo de ação envolve alguma técnica de busca de ideias diferentes. Por exemplo, se você sabe alguma técnica para pensar fora da caixa, pode aplicá-la a alguma unidade que escolher. Claro, se fizer isso para alguma unidade considerada pronta, haverá sempre o risco de ela ser alterada e retroceder no fluxo.

Se você tem mais de um projeto em andamento, vai passar por cada um deles regularmente. Na minha experiência, aquilo a damos mais atenção fica mais “quente”, mais presente no pensamento e assim mais sujeito a despertar inspirações. Ou seja, mesmo que nenhuma nova ideia venha para um conteúdo, o simples contato com ele vai facilitar o potencial de novas ideias.

Tenha contato com seus projetos ativos regularmente.

Note que esse trabalho regular, focado no conteúdo e progressivo, não tem pressões de tempo ou critérios de perfeição, e portanto é via de regra muito estruturado, simples, relaxado, tranquilo. É bem diferente, pelo menos para este autor, de escrever para publicar em seguida. Possível, mas nunca terá a mesma qualidade.

Implementação

Nossa proposta para implementação da produção estruturada em série segue a estrutura já descrita: um draft, originais e produtos. Aqui vamos detalhar mais o draft.

O draft terá uma seção Conteúdo (por exemplo) e uma subseção para cada estágio de evolução das matérias, com o nome no plural quando apropriado. No nosso caso, colocamos os estágios mais avançados primeiro, ou seja, a sequência é invertida em relação ao fluxo. Dessa forma, as matérias prontas ficam no início do documento e mais facilmente acessíveis.

No caso do exemplo anterior, a estrutura do documento ficaria assim:

É interessante usar estilos de título para esses três níveis, como mostrado abaixo, porque a estrutura aparecerá no sumário do documento, desde que este esteja configurado para mostrar três níveis, e também, no caso do Word, na aba Títulos do painel de navegação.

No caso de unidades em desenvolvimento, elas podem estar em maior ou menor nível de maturação. No nosso caso, costumamos colocar as mais adiantadas à frente das outras, isto é, mais próximas de avançarem no fluxo. Isto se aplica também para ideias, que podem ter mais ou menos potencial.

Concluindo

Há pessoas que parecem achar que produzir conteúdo depende de sua capacidade. Outros sugerem que depende de prática, como Epiteto, o filósofo grego: “Se quiser, escrever, escreva”. Certamente elaborar produtos de qualidade depende de conhecimentos, habilidades e experiência, mas, pessoalmente, considero que o fator principal é estar estruturado. Sabendo o que fazer, podemos nos dedicar regularmente e eventualmente nossos conteúdos irão amadurecer e tornar-se produtos.

É como fazer uma viagem que terá trechos melhores e outros não tão fluidos: o mais importante é sabermos para onde estamos indo e ter um roteiro para seguirmos: indo sempre à frente, vamos chegar. Que também desfrutemos da jornada!


Veja também:

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