Introduzindo o prazer de depois

Uma fonte de prazer depois do esforço faz grandes diferenças

Por Virgílio V. Vilela

Como no efeito borboleta, uma pequena mudança em uma atividade pode resultar em grandes diferenças na nossa experiência – para melhor. Conheça aqui uma dessas, hmm, possibilidades-borboleta. Também explicamos por que funciona.

Pequena diferença, grande efeito

Certa época fiz ioga, que era no ambiente de trabalho, primeiro horário. A ioga (usamos aqui palavra e gênero aportuguesados) é exigente em suas posturas. Mas, no final, a instrutora acendia um incenso, colocava uma música e fazíamos relaxamento. Esse relaxamento era muito bom, tão bom que compensava todos os esforços, nem me lembrava deles e ia trabalhar me sentindo ótimo.

Em outra época, costumava correr com uma amiga em um parque. Depois, íamos a uma torteria que tinha coisas muito gostosas, e lá tomávamos café e comíamos algo, sendo o critério principal ser gostoso. Hoje sinto saudades dessa atividade, e certamente não é por causa dos esforços nas subidas ou dos resultados.

Quero chamar a atenção para o que acontece no pensamento em tais situações. É natural tentarmos antecipar o que vai acontecer e em muitos casos é previsível: quem vai para a ioga sabe que vai fazer posturas e haverá momentos difíceis. Quem corre antecipa possíveis momentos de cansaço, quem faz musculação sabe que terá que fazer força.

Mas saber que depois do esforço haverá algo prazeroso tem um efeito bem animador. Nomes ajudam na comunicação; vamos chamar isso de prazer de depois. O termo “prazer” aqui é um pouco mais abrangente, inclui também algum tipo de excitação.

Em geral, o efeito de antecipar o prazer pode ser significativo. Como exemplo em outro contexto, já fizemos várias viagens de Brasília a Belo Horizonte, e passamos por Paracatu. Lá tem uma lanchonete com uma empadinha simplesmente maravilhosa: bem temperada, a massa não é podre e tem a dose de pimenta exata para realçar o sabor e não ser notada. Quando iniciamos essa viagem, ninguém pensa nos 730 quilômetros; o foco vai é para o momento em que poderemos comer as empadinhas. A viagem acaba subjetivamente dividida em duas menores.

Meu cachorro maltês (foto) adorava quando descia do apartamento do prédio onde morávamos, que tem grama e árvores em volta. Era só chamar “Kiru, vamos passear?” que ele ficava maluco. Quando passava pela porta, dava três voltas ao redor de si mesmo e ficava assim até chegar lá embaixo. Ele antecipava o futuro imediato e já reagia ao que enxergava.

A possibilidade

A ideia é então você introduzir algo prazeroso após sessões de atividades, como treinos, para gerar o prazer de depois, de preferência com mais alguém. Quem costuma fazer isso são os peladeiros de futebol e futsal, tomando cerveja e batendo papo depois, enfim, confraternizando. Um conhecido tem uma “pelada profissional” de futebol, muito organizada e que tem até churrasqueiro.

Princípio: ter algo prazeroso para fazer após uma sessão de atividades físicas.

O que será fonte de prazer não precisa ser algo de muito valor, porque o valor emocional é subjetivo e não tem necessariamente relação com o valor material. Isso ficou muito claro para mim em uma aula que ministrei em um curso noturno de graduação. Eu costumava andar com balas mastigáveis e, a certa altura, ao fazer perguntas à turma, tive a ideia de dar uma bala a quem acertasse. Aquilo resultou em um efeito inesperado e surpreendente na turma, ficaram tão agitados que alguém veio reclamar do barulho.

Com exceção da instrutora de ioga, nenhum outro instrutor que tive parecia ter noção do valor de agregar prazer aos treinos de alguma maneira. Quando fiz treinamento funcional, em uma época no final tinha uma massagem nas costas com um aparelho próprio que proporcionava esse efeito. Mas o aparelho estragou e não foi consertado nem trocado. Senti falta desse fechamento; para compensar, eu fazia um relaxamento por conta própria, meio improvisado em um colchonete. Na minha opinião, o instrutor não avaliou corretamente a importância dessa massagem, que inclusive era um diferencial competitivo, algo nem sempre fácil de se conseguir.

Como começar

Você pode agora estar refletindo sobre como a possibilidade que descrevemos funcionaria para você para sustentar uma eventual decisão a respeito; segue uma contribuição. O pensamento no prazer de depois envolve a lembrança de experiências e sua projeção no futuro; isso requer naturalmente experiências, e sempre haverá a primeira. Considero que o melhor é você procurar gerar uma primeira experiência, para depois avaliar melhor o que fazer.